A criança deve estar sentada na cadeira em um ângulo de 90 graus com os dois pés firmemente no chão (Redstone, 2004). Ela não deve estar em uma cadeira onde seus pés estão pendurados ou suas costas debruçadas contra o encosto da cadeira. Como as crianças no espectro autista muitas vezes não recebem um feedback preciso do seu sistema proprioceptivo referente ao local onde seu corpo está no espaço (Ayers, 1979), é importante que eles estejam em uma posição estável de modo que possam se concentrar no que eles estão fazendo ao invés de se preocuparem como eles vão ficar na cadeira. Além disso, baixo tônusmuscular torna difícil manter o controle postural, pois os músculos não respondem plenamente à contração (Gagnon, 2003). Esta é mais uma razão para se certificar de que a criança está em uma posição estável antes de iniciar o trabalho.
A alternativa para uma cadeira regular é um pufe, caso a criança tenha muita dificuldade de manter-se na cadeira. O pufe envolve a criança e ajuda a dar-lhe um feedback a respeito de onde seu corpo está no espaço. Estar com um bom controle postural realça a habilidade da criança para produzir o movimento ativo necessário para esta estimulação oral.
Linguagem:
Como a linguagem é apresentada para a criança é parte do ambiente de tratamento. A linguagem do adulto é um componente de informação sensorial processada pela criança. (o que se fala, o quanto se fala e o tom de voz)
Como as crianças no espectro autista podem ficar sobrecarregadas com os estímulos auditivos (Rapin, 1997), é importante assegurar que a informação está correta e o mínimo de palavras serão usadas. Um ritmo lento de expressão, com uma pausa após cada frase, ajudará também a criança no processamento auditivo. Você deve estar ao nível dos olhos, frente a frente com a criança.
Lembre-se:
1. Ao apresentar o programa oral-motor para a criança, use uma linguagem simples que seja gramaticalmente precisa.
2. Inicie a sessão com a mesma frase para que a criança crie uma antecipação do que irá acontecer. Utilize figuras se necessário.
3. Diga à criança o que vai acontecer e o que está acontecendo em todos os exercícios e atividades.
Observação: A criação de uma rotina altamente previsível neste programa é necessário porque a criança vai trabalhar a expansão dos limites dos seus mecanismos de defesa. Esta estratégia não é para ser usado em tudo da vida cotidiana, porque pode fazer a criança dependente de rotinas. Crianças no espectro autista podem ter dificuldade para interpretar sinais não-verbais e têm sistemas de defesa tátil atípico (Ayres, 1979). Se eles não entendem o que vai acontecer ou o que está acontecendo, o reflexo "fight, flight ou freeze” (luta, fuga ou congelamento) pode ser acionado pelo sistema nervoso da criança, levando-a a evitar a situação ou se tornar agressiva.
Os pés, palmas das mãos, dedos, língua, lábios e rosto têm nervos mais sensível ao toque do que outras partes do corpo (Field, 2001). A estimulação táctil previsível para áreas do corpo que têm mais células sensíveis ao toque pode proporcionar o relaxamento geral do corpo e um estado mais atento (Field, 2001).
Neste protocolo, as crianças são incentivadas a participar ativamente das atividades táteis e exercícios, mas nunca são forçado a fazê-lo. Forçar acionaria o reflexo de "luta ou fuga" e irá interferir com o propósito de usar o estímulo tátil para facilitar padrões de movimento automático e respostas sensoriais.
Massagem:
Com um hidratante ou loção, massageie as pernas e pés da criança, estimule, com mão sobre mão, se necessário, para que a criança se auto-massageie.
Faça o mesmo nos braços e mãos e por último passe a loção no rosto massageando.
Ao espalhar a loção no rosto, faça-o na direção da boca e para baixo, ao longo do lado da linha maxilar inferior.
É importante observar o tamanho da abertura da boca, enquanto a criança está passando a loção no rosto. Este é um bom momento para incentivar a criança a perceber o tamanho da abertura de sua boca - e controlar o tamanho desta abertura. Por exemplo, diga para a criança: "faça a sua boca pequena", "faça com que seus lábios se toquem", ou "feche a boca".
Você pode ajudar a esfregar a loção ou dar suporte ao maxilar inferior, dando apoio ao queixo, colocando a mão ou o dedo sob o queixo da criança e seu dedo indicador sob o lábio inferior.
Com esta estimulação e outras áreas o corpo da criança está sendo preparado para aceitar a estimulação tátil no interior da boca através de um estado mais relaxado e alerta.
Estimulação na boca:
Comece com o toque nos lábios, o toque deve ser firme e podem ser usados pirulitos, paninhos embebidos em suco ou toothettes.
“Chew tube” - O uso consistente do chew tube ajudará a desenvolver a estabilidade da mandíbula, que é necessário para que em progressão, ocorra a separação dos movimentos da língua e dos lábios.
Incentive a criança a mastigar de uma forma contínua e rítmica por 10 a 30 vezes de cada lado da boca. Conte alto, às vezes com aplausos, para ajudar a manter o ritmo.
Este é outro momento em que a criança pode ser incentivada a perceber e controlar o tamanho da abertura da boca. A boca da criança não deve estar totalmente aberta durante a mastigação. Ajude colocando uma mão ou dedo sob o queixo da criança com o polegar sob o lábio inferior para facilitar uma menor abertura da boca (Redstone, 2004)
“Nuk brush” - A criança deve empurrar para baixo a sua língua com a Nuk brush e língua dentro da boca. Isso irá facilitar o desenvolvimento do movimento da língua em separado do movimento da mandíbula e aumentar a conscientização da boca. Se não houver separação de movimentação da língua a partir de movimentos da mandíbula, a criança terá problemas para manter a língua em sua boca quando com ela aberta.
O apoio na mandíbula ajudará a manter a boca aberta no tamanho desejado. A criança é incentivada a empurrar para baixo na metade da frente da língua por 10 a 30 vezes com o adulto contando em voz alta, enquanto a língua está dentro da boca.
Este exercício é para aumentar a conscientização do corpo da língua, enquanto dentro da boca e para auxiliar no desenvolvimento da sensibilidade oral normal. Continue a incentivar a criança a "manter uma boca pequena", enquanto empurrando para baixo sua língua com a Nuk brush.
A criança deve escovar ambos os lados da língua. Isso incentiva o movimento da língua separada do maxilar inferior até os dentes laterais. A criança também escova o primeiro terço da frente do topo da boca. E incentive-a a mover a língua até a parte superior da boca. Também faça isso com a ponta da língua. Incentive a criança a empurrar para baixo na extremidade da língua e toque na parte superior da boca atrás dos dentes superiores. Tipicamente, a língua irá seguir a estimulação tátil e ir para o topo da boca. Todas essas atividades com a Nuk brush são destinadas a incentivar o movimento da língua independente do movimento da mandíbula e ajudar na normalização da sensibilidade oral.
Os pais, professores ou terapeutas podem empurrar para baixo na frente da língua da criança enquanto a língua é dentro da boca. A criança é incentivada a empurrar contra essa resistência ao topo da boca. Isto pode ser feito 5 a 10 vezes. Este mesmo exercício também pode ser feito com a ponta da língua.
Outros materiais que podem ser utilizados para estímulo táctil oral: luvas, palitos, Z-vibe,tubing, entre outros.
Boca: comer e falar
Muitos dos programas para desenvolver a fala, encorajam imitação verbal sem focar na habilidade (ou falta de) da pessoa em processar informação sensorial e daí conseguir fazer os movimentos necessários de forma organizada para produzir um som ou uma sílaba.
É essencial saber sobre desenvolvimento típico para ser capaz de identificar quando alguém está exibindo atraso, desenvolvimento anormal ou desordenado.
Tipicamente, a criança com 24 meses não precisa mais morder no copo enquanto bebe, porque já desenvolveu a estabilidade interna da mandíbula (Evan-Morris & Dunn Klein, 1987). Uma criança que continua a morder no copo depois de 24 meses, teria atraso no desenvolvimento/amadurecimento das habilidades motoras-orais devido a uma falta de controle interno da mandíbula.
O ranger dos dentes, também pode ser causado pela falta de controle da mandíbula, problemas posturais que afetam o pescoço ou ferimentos na cabeça, uma vez que agrava diretamente os músculos na região da mandíbula, que por sua vez, acionam os dentes a rangerem.
A falta de controle interno da mandíbula também afeta a produção da fala e outros movimentos orais. Por exemplo, esta criança normalmente moverá a sua língua e mandíbula em conjunto para conseguir mover a comida de um lado para o outro da boca, ao invés de mover a língua separadamente da mandíbula.
A musculatura oral usada pela criança para se alimentar também é a mesma usada para a produção da fala. Os padrões sensórios-motores que a criança está produzindo enquanto come são semelhantes aos padrões sensório-motor necessário para produção da fala.
Pode ser difícil de entender a fala da criança com problemas sensório-motor-oral quando o tema da conversa não for conhecido, devido à falta de movimentos independentes dos lábios e da língua em relação aos movimentos da mandíbula por causa da falta de controle interno da mandíbula.
A presença contínua dos reflexos orais, tais como o reflexo de busca de alimento, reflexo de mordida fásica, etc, depois de uma idade em que deveriam estar integrados ao sistema nervoso da criança (geralmente entre 4 e 6 meses de idade) é considerada movimento primitivo. O termo primitivo é usado para se referir aos movimentos que são normalmente apenas vistos em bebês (Bobath & Bobath, 1975).
Crianças no espectro autista, freqüentemente apresentam baixo tônus muscular, que proporciona uma base pobre de apoio ao desenvolvimento do movimento. A criança deve trabalhar mais, desprendendo mais energia e atenção, para usar os músculos com baixo tônus muscular (Gagnon, 2003). Quando a criança começa a se mover contra a gravidade, ela começa a corrigir ou mantém, de forma anormal, certas partes do seu corpo para ganhar estabilidade e assim mover-se. Quanto mais “correções” ocorrem, os componentes normais de movimentos não se desenvolvem naturalmente. Essas correções anormais em uma área resultará em padrões de movimentos compensatórios em outras regiões, causando um feedback sensorial-motor anormal e assim respostas anormais do sistema nervoso central.
Este ciclo anormal de feedback, por sua vez, interfere com a capacidade da criança em produzir respostas adaptativas o que pode levá-la a reagir de forma exagerada ou diminuida a informação sensorial.
Bibliografia:
Improving Speech and Eating Skills in Children with Autism Spectrum Disorders - An Oral-Motor Program for Home and School by Maureen A. Flanagan, MA, CCC-SLP
O controle muscular foi conseguido através de uma estimulação chamada M.O.R.E. ( componente Motor, organização Oral, demandas da Respiração e contato ocular - Eye) que é um protocolo desenvolvido por uma fono.
Ele baseia-se em massagens dentro da boca e na face, estimulação do sopro e do engolir corretamente, além da respiração.
As massagens ajudaram no tônus muscular da face e boca do Pedro, ele tínha nódulos nos músculos da bochecha que desapareceram com a massagem. O protocolo não é complicado e há um video e livro que explicam como aplicá-lo.
O Pedro segue com resistência a experimentar comidas novas, porém o problema de controlar a saliva desapareceu. Ele aprendeu a soprar e sugar pelo canudinho, habilidades que ele não tinha anterior às massagens orais.
M.O.R.E - Integração da boca com as funções sensoriais e posturais.
Enquanto as abordagens motoras-orais para o tratamento de crianças com problemas neurológicos concentrava-se na disfunção alimentar grave o trabalho clínico com crianças que têm processamento sensorial / disfunção de desenvolvimento revelou uma forte associação entre o motor-oral e a disfunção respiratória e integrativa sensorial e muitos problemas sensório-motores.
O protocolo M.O.R.E é baseado num referencial teórico para compreender como e por que muitos aspectos do desenvolvimento é significativamente influenciado por funções orais. Existe uma relação da sucção / deglutição / respiração sincronia com o comportamento, aprendizado, desenvolvimento postural, alimentação, comunicação, excitação, auto-regulação, desenvolvimento psicossocial, percepção visual / auditiva e até problemas de saúde comuns em crianças.
Patti Oetter foi pioneira no desenvolvimento dos conceitos deste tratamento que capitalizou sobre essas relações interdependentes.
Alguns exercícios e brinquedos podem ser utilizados para facilitar a integração da boca com o desenvolvimento sensorial e postural, incluindo a auto-regulação e atenção, incluíndo a sucção, deglutição, sincronia da respiração. Alguns brinquedos utilizados são apitos, sopradores, Kazoos, bolhas, etc
Fonte do M.O.R.E. : http://www.pdppro.com/
Livro: M.O.R.E.: Integrating the Mouth With Sensory and Postural Functions, 2nd Ed.
Patricia Oetter, Eileen Richter, Sheila Frick
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