Desde que nasce o ser humano é permanentemente confrontado com a experiência da frustração. Um dia o leite estava mais quente do que a criança gostaria, ou seu cuidador não compreendeu que seu choro era motivado por dor de barriga e não por fome. Um pouco mais velha, a criança já é capaz de usar palavras para expressar suas preferências e dores, mas neste momento é convocada a deixar a segurança do ambiente familiar e confrontar-se com os desafios e normas do espaço escolar. Paulatinamente, as exigências aumentam e, com isso, aumentam também as possíveis discrepâncias e os necessários acordos entre o desejo de cada um e as demandas do mundo.
É verdade que para as crianças com graves dificuldades no desenvolvimento emocional, como o autismo, lidar com a frustração pode ser uma tarefa mais árdua. No entanto, é um erro tremendo pensar que elas não devam ser contrariadas, uma vez que tal experiência, como vimos, é indissociável da condição humana. Assim, ser contrariado pode ser estruturante, por possibilitar à criança desenvolver maturidade emocional para vivenciar outras experiências igualmente humanas.
No entanto, muitas famílias e educadores, por vezes no intuito de proteger as crianças com dificuldades, acabam impedindo-as de se confrontar com as experiências cotidianas de contrariedade. Esta atitude, porém, em vez de contribuir para o melhor desenvolvimento emocional destas crianças, geralmente termina por colaborar com a constituição de pequenos tirânicos, birrentos, incapazes de se identificar com as necessidades dos outros e de se submeter às regras da convivência social e, consequentemente, deixam de partilhar também os encantos e possibilidades advindos deste convívio.
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