Integração Sensorial e Comunicação
A experiência clínica tem demonstrado que, a melhoria da integração sensorial implica não só em uma melhoria da aquisição da fala/linguagem mas também na habilidade da criança de responder adaptativamente nos processos de integração sensorial. São progressos que se alimentam reciprocamente.
O bebê necessita da habilidade de processar a entrada sensorial para que adquira o sentimento de segurança emocional necessário para se comunicar com o ambiente e as pessoas. Muitas crianças com disfunção de integração sensorial têm dificuldade em manter o nível da alerta necessário para essa comunicação (verbal ou não verbal). Outras, por dificuldades no processamento sensorial, tem dificuldade no processamento visual, tátil, etc. O processamento do sistema tátil é neurologicamente ligado a outras modalidades sensoriais e tem um efeito significativo nos acontecimentos emocionais e sociais da vida da criança (Short-DeGraff). A exploração do mundo pelo bebê é centrada na boca. O feedback das primeiras experiências sensoriais é essencial para a habilidade de planejamento motor oral e para a coordenação de padrões refinados de movimento para criar as mudanças sutis que a fala exige. Short-DeGraff acredita que a aquisição de linguagem pode realmente dirigir a discriminação tátil conforme a criança começa a parear sensações específicas com o significado das palavras.
Existe uma hierarquia de pré-requisitos para o desenvolvimento da comunicação (Oetter e Laurel). Qualquer intervenção tem de ser feita a um nível abaixo daquele que se encontra prejudicado; não é possível iniciar uma terapia focalizando comunicação e cognição quando o problema se encontra em um nível inferior.
O mecanismo de alerta em termos de relação entre comportamento de sobrevivência e discriminativos precisa ser equilibrado para que a criança possa avançar dentro da hierarquia até chegar ao nível de comunicação e cognição. Obviamente, o nível de alerta depende da maturação do sistema nervoso e é puramente uma questão de integração sensorial. Para que uma sessão de terapia, seja ocupacional ou fonoaudiológica, é fundamental o conhecimento dos padrões de alerta da criança, para que possa ser modulado através de entrada sensorial dirigida e respostas adaptativas monitoradas de muito perto.
Raramente uma criança é encaminhada para terapia ocupacional por problemas de fala. Evidentemente, a existência de um atraso na comunicação justifica um encaminhamento para a fonoaudióloga. Entretanto, há alguns problemas de fala que levam à suspeita de que a dificuldade em integração sensorial (DIS) seja a raiz do problema.
● O caso que mais chama a atenção é da criança que tem um problema de articulação. Se esse fato ocorre isoladamente, deve-se observar a criança cuidadosamente. Será que a criança tem algum indicador de mau processamento sensorial ? Muitas vezes, a criança tem um problema de planejamento motor. Da mesma forma que essa criança vai ser desajeitada para tarefas motoras, será desajeitada para a parte motora da fala – a articulação. São geralmente crianças bastante inteligentes mas que têm uma incapacidade de produzir alguns sons. A criança com DIS, provavelmente não terá desenvolvido um esquema corporal bom o suficiente para saber instintivamente como posicionar os lábios e a língua para produzir os sons. Provavelmente também terá dificuldade no controle respiratório para emissão de sons.
● Outro problema de linguagem que é comum entre as crianças com DIS é a dificuldade no seqüenciamento. Será difícil para essa criança organizar os pensamentos para seqüenciar as palavras em uma sentença, a sentença para organizar uma estória e assim por diante. Muitas vezes essa criança também tem dificuldade em perceber onde é a sílaba tônica da palavra tendendo a pronunciá-la com o acento no lugar errado. A dificuldade em seqüenciamento também afeta a capacidade de imprimir um bom ritmo à fala. Esta pode ser demasiadamente lenta ou rápida, levando às vezes a problemas de disfluência.
● O tônus muscular baixo, presente em muitas crianças com DIS, frequentemente causa problemas com controle de saliva, manutenção de postura bucal e controle respiratório.
● A dificuldade com propriocepção pode fazer com que a criança tenha problemas com modulação de voz. Pode falar com voz sempre alta ou baixa demais. Pode também ter o timbre de voz inadequado, com voz muito fina ou muito grossa.
Vários estudos têm demonstrado que a terapia feita em conjunto por profissionais das duas áreas concomitantemente é o mais indicado e que oferece resultados melhores. Entretanto, isso nem sempre é possível. Deve-se ter em mente entretanto que os resultados serão mais positivos se ambas as terapias ocorrerem ao mesmo tempo e ambos os profissionais tiverem um bom entendimento da raiz do problema e onde ele ocorre dentro de uma hierarquia.
Fonte: Oetter & Laurel / Short-DeGraff – Human Development for Occupational and Physical Therapists /Baltimore – Willians and Williams / Greenspan – Fisrt Feelings New York ( Preparado por Heloiza Goodrich)
Nenhum comentário:
Postar um comentário