Durante décadas, predominou o conceito de que o Autismo era uma doença
psicológica, a qual se baseava na dificuldade de relacionamento entre mãe e
filho e, conseqüentemente, a criança não teria um desenvolvimento normal.
Nos últimos quinze anos, aproximadamente, o conceito de Autismo mudou. Segundo a
Classificação Internacional de Doenças (CID-10), publicada pela Organização
Mundial de Saúde, o Autismo é uma disfunção neurológica de base orgânica, que
afeta a sociabilidade, a linguagem, a capacidade lúdica e a comunicação.
O Autismo não ocorre por bloqueios ou razões
emocionais, como insistiam os psicanalistas, mas pode ser agravado por eles. As
causas podem ser viroses gestacionais (como citomegalovirus), quadros de hipoxia
(déficit de oxigenação no parto), presença do X Frágil, infecções e mal
formações congênitas, toxoplasmose, rubéola etc.Acomete cerca de 5 entre 1.000
nascidos e é quatro vezes mais comum entre meninos do que entre meninas.
As crianças autistas apresentam os sintomas até os três primeiros anos de idade.
O desenvolvimento da fala, nessas crianças, é lento e anormal, senão ausente,
caracterizando-se pela repetição daquilo que é dito por terceiros ou pela
substituição das palavras por sons mecânicos.
São sintomas freqüentes do autismo, a falta de
reação a sons e à dor, assim como a incapacidade de reconhecer situações de
perigo, e a repetição rítmica de certos movimentos como, por exemplo, balançar o
tronco para a frente e para trás ou bater palmas.
Como o autista tem grave alteração de
comunicação, mais especificamente no desenvolvimento de linguagem, a figura do
fonoaudiólogo é imprescindível para o tratamento precoce da criança.
O Autismo é associado ao retardo mental em cerca de 70% dos casos, e poucos
indivíduos apresentam Q.I. acima de 80.
Durante décadas, muitos que não foram tratados
precocemente, foram diagnosticados como doentes mentais e internados em
instituições fechadas.
Uma das pioneiras no tratamento do autista na Fonoaudiologia é a professora
doutora Fernanda Dreux Miranda Fernandes, que há cerca de 20 anos trabalha com
crianças e adolescentes autistas na Universidade de São Paulo.
Fernanda Dreux foi a primeira a publicar um capítulo sobre o tratamento
fonoaudiológico do autista, em 1982, no livro Distúrbios da Comunicação –
estudos interdisciplinares sobre Autismo. A doutora Fernanda coordena o
atendimento de 35 a 40 crianças e adolescentes, na maioria carentes, que
comparecem duas vezes por semana ao Ambulatório do Curso de Fonoaudiologia da
USP/São Paulo.
“É uma população em que as deficiências
individuais são muito diferentes. Cada paciente exige uma compreensão
específica”, afirma a doutora Fernanda.
O atendimento é a longo prazo e não há critérios
específicos para alta; mesmo assim, todos têm alta assistida, com retornos a
cada três, seis meses ou anuais.
“O tratamento fonoaudiológico supera todas as expectativas da literatura
internacional, de que as crianças devem falar até os seis anos ou, então, não
falarão.” Entre seus pacientes, há um adolescente que começou a falar com 13
anos, após nove anos de terapia fonoaudiológica.
Para Fernanda Dreux, a terapia fonoaudiológica
deve contar com o envolvimento da família, especialmente da mãe, para a melhora
da criança. Todos os casos atendidos por Fernanda, cerca de 500 nestes anos,
tiveram uma melhora significativa, pois alguns começam a falar e outros se
comunicam, freqüentando escolas comuns ou especiais.
A preocupação maior da doutora Fernanda está no
despreparo da maioria dos profissionais, que não têm bagagem de conhecimento
sobre o tratamento fonoaudiológico do Autista.
No ambulatório da UNIFESP, a doutora Jacy
Perissinoto e sua equipe já atenderam, nos últimos três anos de funcionamento do
ambulatório, cerca de 30 pacientes, e hoje estão em tratamento 8 casos.
Há crianças que decoram calendários e anúncios
de televisão, e são identificadas como
Autistas, mas, na verdade, são portadores da
Síndrome de Asperger, que está classificada no mesmo grupo dos Autistas, em
Transtornos Invasivos do Desenvolvimento ou Distúrbios Globais do
Desenvolvimento.
No ambulatório da UNIFESP, os Autistas com maior desenvolvimento de linguagem
são encaminhados para escolas comuns ou especiais, selecionadas pelos
fonoaudiólogos, durante a terapia.
Os profissionais acompanham o desenvolvimento
dessas crianças nas instituições de ensino, com o objetivo de potencializar as
condições de desenvolvimento da criança. Por isso a interação entre os
professores, pais e fonoaudiólogo é fundamental para o tratamento. O ambulatório
criou um grupo de apoio às famílias de Autistas, além de contar com a presença
deles na terapia.
As fonoaudiólogas Fernanda Dreux e Jacy
Perissinoto concordam que o uso de medicamentos em crianças dispersivas melhora
a qualidade de atenção, mas isso deve ser analisado caso a caso.
Equipe Multidisciplinar
Segundo o neurologista Wanderley Manoel
Domingues, que atua com Autistas há pelo menos 33 anos, é importante que o
Autista seja assistido por uma equipe multidisciplinar.
“Se a criança Autista não tiver atendimento precoce, evolui para deficiência
mental, por falta de estimulação”, alerta o neurologista.
Hoje com o novo conceito de que o Autismo é uma
doença de disfunção neurológica orgânica, identificada através da neuro imagem,
por estudos anatomo-patológicos, pela ressonância magnética funcional e outros,
a maioria dos Autistas são tratados com medicamentos, afirma Wanderley.
Esses medicamentos tratam as complicações, como:
convulsões, distúrbios do sono, agitação psicomotora, crises de alta e baixa
agressividade, impulsividade elevada, dispersão etc.
“Os medicamentos existentes facilitam o tratamento fonoaudiológico e de outros
profissionais da equipe multidisciplinar”, destaca o neurologista.
Cerca de 50% dos autistas são portadores de
convulsões, fator decorrente de disfunções neurológicas. 30 a 40% dos autistas
apresentam níveis de seratonina (neuro transmissor cerebral, responsável pela
sensação de bem estar) elevados.
O Autista tem sentimento narcisista, não é altruísta, e há uma grande incidência
da doença entre gêmeos univitelinos. Segundo Wanderley Domingues, o autista olha
através do observador e não para o observador.
Wanderley Domingues é responsável pela criação do Centro Pró-Autista, que é uma
organização não governamental, criado em julho/2000, que conta com o apoio de
instituições internacionais e da iniciativa privada e atende 30 crianças e
adolescentes. O Centro Pró-Autista é constituído por pediatras, neurologistas,
psiquiatras, psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacional, fisioterapeutas
e professores de educação física.
No mês de julho, o Centro Pró-Autista organizou
o 1º Curso Internacional de Atualização sobre Autismo, em São Paulo, sob a
coordenação do doutor Wanderley Domingues. O evento contou com a presença da
fonoaudióloga June Dickinson, do Hospital Einstein College of Medicine, Bronx –
New York/EUA, uma das maiores especialistas em Autismo.
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