INTRODUÇÃO
Após a análise do Relatório Técnico-Pedagógico e da cheklist, procurámos estratégias educativas adequadas ao caso em estudo, o autismo, a fim de proporcionar um desenvolvimento global e de competências em áreas específicas da criança, promovendo a autonomia, a integração e a inclusão da criança no seio familiar e social, estimulando o desenvolvimento cognitivo, a linguagem e a comunicação, recorrendo a programas adaptados.
ESTRATÉGIAS EDUCATIVAS – MODELO TEACCH
Eric Schopler e seus colaboradores (década de70) desenvolveram o modelo TEACCH, que consiste em ajudar os autistas a atingir a autonomia, melhorando o desempenho e as capacidades individuais. É um modelo flexível que se adequa a cada criança, respondendo às necessidades individuais e desenvolvendo a comunicação, a organização e a partilha social. Desta forma é necessária a aplicação de princípios e estratégias que adaptem o espaço, o tempo, os materiais e as actividades que facilitam a aprendizagem. Trata-se de um ensino estruturado, que transmite rotinas à criança através de uma informação clara num ambiente calmo. Eis algumas reestruturações:
Na estrutura física, a sala deve conter áreas bem específicas para cada actividade, garantindo a estabilidade e transmitindo à criança o conceito de cada espaço.
1 - Área de transição - local onde são afixados os horários individuais;
2 – Área de reunião - a comunicação e a interacção social são a base do trabalho, o qual acontece em vários momentos do dia. Aqui executam-se actividades tais como: explorar o tempo, objectos, imagens, sons, fantoches; cantar, ouvir histórias, aprender a escolher, imitar sons, gestos, acções, aprender a sentar, organizar/contar vivências, etc. ;
3 - Área de aprender - espaço de ensino individualizado. Aqui encontra-se o plano de trabalho (em cima da mesa);
4 – Área de trabalhar - área onde o aluno realiza autonomamente as actividades aprendidas;
5 - Área de brincar ou de lazer – Aqui relaxa-se, executam-se momentos de pausa, permitem-se as estereotipias, brinca-se e trabalha-se o jogo simbólico;
6 - Área de trabalho de grupo - desenvolvem-se trabalhos conjuntos tais como musica, expressão plástica, jogos, etc.;
7 - Área do computador – a actividade pode ser autónoma, auxiliada ou conjunta. A capacidade de esperar, dar a vez e partilhar são áreas aqui trabalhadas, bem como a reprodução gráfica, atenção, a motivação, a coordenação óculo manual, a comunicação, etc.
A organização do tempo individual é necessária para criar sequências e organizar o dia, evitando mudanças comportamentais e emocionais. Os horários devem ser compostos por: objectos reais, partes de objectos reais, miniaturas, fotografias, imagens desenhadas, pictogramas e devem conter sempre palavras escritas.
No plano de trabalho consta o percurso das tarefas com a noção de princípio meio e fim da actividade, como recurso de símbolos, aos quais correspondem no tabuleiro das tarefas, previamente organizadas.
O cartão de transição é a indicação ao aluno como se deve dirigir na sala de aula e quais os passos a dar
ESTRATÉGIAS EDUCATIVAS – TÉCNICAS E FORMAS DE INTERVENÇÃO
Maria do Carmo Pereira e Fernando David Vieira (1992) referenciam que as estratégias a adoptar nas crianças com deficiência devem ir ao encontro das necessidades da criança em questão, procurando recorrer sempre aos verbos de acção com o objectivo de adquirir competências. As áreas essenciais a trabalhar são incluídas nos seguintes parâmetros:
1. Estimulação sensorial
Estímulos visuais – jogos de luzes;
Reacção à própria imagem – espelho;
Estímulos auditivos – música – instrumentos musicais;
Estímulos tácteis – texturas – livros texturados;
Estímulos olfactivos – diversos tipos de cheiros;
Estímulos gustativos – diversos tipos de sabores.
2. Independência pessoal
Alimentação autónoma, progressiva e com recurso dos instrumentos adequados;
Hábitos e métodos de higiene;
Regras de vestuário e sua aplicação autónoma;
Saber estar e comportar-se devidamente nas diversas situações diárias.
3. Motricidade
Exercícios de equilíbrio;
Exercícios de coordenação de movimentos amplos;
Exercícios de força e direcção;
Exercícios de motricidade fina.
4. Comunicação
Exercícios de aperfeiçoamento da audição;
Aumento do vocabulário;
Recurso a diferentes formas de comunicação, separadas ou em conjunto:
- imagens
- sinalética
- gráficos
- grafismo
5. Socialização
Jogos de aceitação e compreensão de regras de grupo;
Formas de cordialidade;
Aceitação da família, do professor, do próximo, do estranho.
6. Cognição
Jogos de associação de imagens em pares.
7. Sequencialização
Recurso a tarefas do quotidiano;
Aplicação de exercícios partindo do fácil para o difícil tendo em conta os aspectos do desenvolvimento. Por exemplo beber pelo biberão, beber pelo copo com asa, beber pelo copo, beber pela palhinha;
Recurso a trajectos com sinalética, onde se demonstram actividades de rotina, recorrendo a imagens e palavras;
Enfiamentos, torres, e outros jogos…
ESTRATÉGIAS EDUCATIVAS - RECURSO ÀS NOVAS TECNOLOGIAS
Segundo David Rodrigues, Pedro Morato, Rui Martins e Helena Santa Clara, (1989) o recurso às novas tecnologias promove estratégias de aprendizagem e de modificação de comportamentos, enriquece a cultura escolar e desenvolve de competências de base como a atenção. Norberto Sanches (1989) apela ao recurso da informática no desenvolvimento da fala, através de «software educativo» que produz efeitos no desenvolvimento da criança através das técnicas de comunicação incluindo campos de ajuda visual, grafismos com os níveis de intensidade da voz e articulação, a possibilidade de audição das sequências executadas, a aplicação gramatical e a aprendizagem da informática.
Céu Sobreiro e Luisette Marques (1989) referenciam não só o papel dos computadores na linguagem, mas também o seu papel importantíssimo no desenvolvimento da escrita, de forma a desenvolverem competências como: “apetência para escrita/leitura, autonomia, concentração da atenção, memorização, criatividade, ritmo de trabalho”
ESTRATÉGIAS EDUCATIVAS - SISTEMAS ALTERNATIVOS DE COMUNICAÇÃO
Carmen Duarte (1989) diz que a capacidade de comunicação se revela fundamental para o desenvolvimento global do ser humano. Quando uma criança sente dificuldades nesta área, devemos recorrer a métodos e técnicas alternativas de forma a assegurar a aprendizagem. O PIC (PICTOGRAM IDEOGRAM COMMUNICATION) é um sistema de gráficos de comunicação, criado por Subhas Maharaj, que tem como objectivo promover a percepção e conceptualização dos indivíduos. Os 400 símbolos gráficos de figuras brancas estilizadas num fundo preto proporcionam comunicação a quem tem dificuldade na oralidade.
Rosário Toscano (1989) faz referencia ao sistema de comunicação BLISS, criado por Charles Bliss, consiste na utilização de símbolos geométricos, que representam conceitos simples e/ou complexos e exige uma maior capacidade cognitiva.
Isabel Prata (1989) faz referência ao vocabulário Makaton, sistema de comunicação que associa gestos, símbolos, ou a combinação destes acompanhados da fala.
António Vieira Ferreira (1989) defende que no uso da linguagem gestual, o qual envolvem acções coordenadas como gestos, palavra/tom, postura, expressão corporal, pressupõe já um determinado desenvolvimento cognitivo, o que torna esta técnica mais difícil de aplicar numa criança com este tipo de dificuldade.
ESTRATÉGIAS EDUCATIVAS – RETIRADAS DO DEC.-LEI 3/2008 DE 7 DE JANEIRO
Às escolas ou agrupamentos de escolas com unidades de ensino estruturado compete:
a) acompanhar o desenvolvimento do modelo de ensino estruturado;
b) Organizar formação específica sobre as perturbações do espectro do autismo e o modelo de ensino estruturado;
c) Adequar os recursos às necessidades das crianças e jovens;
d) Assegurar os apoios necessários ao nível de terapia da fala, ou outros que se venham a considerar essenciais;
e) Criar espaços de reflexão e de formação sobre estratégias de diferenciação pedagógica numa perspectiva de desenvolvimento de trabalho transdisciplinar e cooperativo entre vários profissionais;
f) Organizar e apoiar os processos de transição entre os diversos níveis de educação e de ensino;
g) Promover e apoiar o processo de transição dos jovens para a vida pós -escolar;
h) Colaborar com as associações de pais e com as associações vocacionadas para a educação e apoio a crianças e jovens com perturbações do espectro do autismo;
i) Planear e participar, em colaboração com as associações relevantes da comunidade, em actividades recreativas e de lazer dirigidas a jovens com perturbações do espectro do autismo, visando a inclusão social dos seus alunos.
CONCLUSÃO Todas as estratégias educativas aplicadas ao autismo, devem promover competências de sociabilização recorrendo a rotinas, a sistemas de aquisição de competências cognitivas e comunicacionais que tornem a criança autista a mais autónoma possível.
BIBLIOGRAFIA
VÁRIOS, IV Encontro Nacional de Educação Básica Especial (1989), “Comunicações”, Textos de Educação, Serviços Educativos, Fundação Calouste Gulbenkian.
PEREIRA, Maria do Carmo e VIEIRA, Fernando David (1992), Uma Perspectiva de Organização Curricular para a Deficiência Mental, Textos de Educação, Fundação Calouste Gulbenkian.
Diário da Republica, 3/2008 de 7 de Janeiro
PEREIRA, Filomena (2008) Unidades de ensino estruturado para alunos com perturbações do espectro do autismo, Normas Orientadoras, Ministério da Educação, Direcção-Geral de Inovação e do Desenvolvimento Curricular
BIBLIOSITES
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